Amigos Belenenses. Começo a minha rubrica pelo mau resultado em Paços de Ferreira.
Na minha opinião, este resultado não é positivo e ter o Paços como adversário directo não é nada bom.
Analisando propriamente o jogo, o Belém até nem começou mal. Logo no primeiro minuto, por intermédio de Silas, podíamos ter marcado. Penso que se marcássemos logo nessa oportunidade, o jogo estaria ganho. Mas como não sou a Maya, não faço futurologia. Mas entraríamos muito bem no jogo se tivéssemos marcado logo nessa primeira oportunidade.
Dominámos aqueles primeiros 10 – 15 minutos e foi nesse espaço de tempo que conseguimos o nosso golo. Para nós foi importante esse golo, mas fez mal ao jogo e à equipa. Após o golo, o Belenenses descaracterizou-se, recuou no terreno (como Pacheco afirma e bem recuámos em “demasia”) e abrimos muitos espaços na defesa, dando a iniciativa de jogo ao Paços.
A partir daí as dificuldades tornaram-se maiores, o estado do terreno também não ajudou em nada, o que levou o Belenenses a “quebrar-se” fisicamente. O Paços chegou ao golo (já se estava a adivinhar, dadas as falhas na defesa) e dominou o jogo territorialmente. Foi difícil perceber como entrámos tão bem no jogo e como saímos da primeira parte desgastados e sem dominar o encontro.
A segunda parte veio elucidar-nos que estavam presentes duas equipas intranquilas na tabela classificativa e que um ponto para estas, é então um bom resultado. O dia não estava propício para grandes espectáculos e assim, a segunda parte foi fraca.
Fico com a sensação que poderíamos ter feito melhor. A entrada no jogo foi muito boa, mas depois faltou a parte da segurança do nosso próprio jogo. Temos que ainda confiar mais em nós próprios, pois só assim, podemos controlar o ritmo de jogo.
Em termos individuais gostei de Saulo (dá velocidade e criatividade ao ataque do Belém), de Diakité (não sabe jogar mal e é um recuperador de bolas nato!) e de Zé Pedro e Silas (estes dois são os grandes artistas do Belém e são os impulsionadores do nosso jogo ofensivo). Silas até no final podia ter feito o golo.
A nota negativa vai para Marcelo, Cândido Costa e para a defesa em geral. Marcelo é um jogador muito esforçado, que não dá os lances por perdidos, mas falta claramente o ímpeto da finalização. Esforça-se, mas isso não é suficiente, tem de marcar golos (que é no fundo o que nós pedimos). Mas mesmo assim acho que é o melhor avançado que temos. Relativamente a Cândido Costa, é um jogador que eu aprecio e todos nós, por isso é que acho que deve render mais. E, claramente Cândido Costa não está nas suas melhores épocas. Penso que Baiano (que tem jogado bem nos jogos em que é chamado) seria a solução que neste momento daria mais consistência à ala direita. Quanto à defesa, o lance do golo de Cristiano é elucidativo, passou por todos sem uma boa oposição da nossa defesa. Carciano foi ultrapassado em velocidade por Cristiano, Ávalos falhou na marcação e toda aquela defesa estava desconcentrada. Faltou uma boa abordagem defensiva neste lance. É preciso melhorar este aspecto – a abordagem defensiva. Há dois jogadores que eu aprecio em termos de antecipação – Ricardo Carvalho e Pepe. Se repararem estes jogadores abordam os lances com convicção e raramente falham na chamada “intercepção”. Por isso são dois grandes centrais e é um prazer ver como eles abordam os lances, sempre com grande pressão sobre o adversário, não dando espaços.
Mas são jogadores de milhões e isso o Belém não tem.
Portanto, já sabemos das dificuldades com que nos deparamos e temos que ter confiança já no próximo jogo. Ganhar ao Sporting seria importante nesta fase da época. Veremos o que vai acontecer.
Noutro âmbito, mostro-me preocupado com o futuro do clube. Falei na semana passada da importância do Simpósio. Da importância que há em debater este clube, mostrando as nossas ideias, criticando o que está mal, enfim preocupar-nos com o futuro do clube. E é esse futuro que está em jogo.
Neste momento há que analisar factos e esses factos dizem-nos algumas coisas. Uma é que não sei se a Comissão de Gestão fica ou não no clube. Outra é que não sabemos se Jaime Pacheco fica ou não no clube. Não sabemos se Gómez sai ou fica. Não sabemos a real situação financeira do clube (o que é uma clara violação do Estatuto, pois no artigo 61º do mesmo Estatuto, no respeitante à competência da Direcção, este estipula que a direcção “fica obrigada a divulgar aos sócios os resultados da mesma” (neste caso respeitante à auditoria). Portanto, neste momento o Belenenses está num clima de indefinição. Isto não pode acontecer sempre em todos os anos! Ora nas outras épocas são jogadores a saírem em final de contrato, são bons treinadores a saírem para clubes, que se vão progressivamente tornando melhores que nós, são erros atrás de erros que nós cometemos. Será que ninguém ainda viu isto? Estamos em Fevereiro e as eleições estão aí à porta e ainda não há candidatos? Nem se fala do clube em termos de ideias e propostas? Onde está alguém que queira pegar no clube?
São muitas indefinições para um clube que vive uma grave situação económica.
Na minha opinião, há que reformular os Estatutos. Em 1º lugar mudar o disposto no artigo 18º referente à gestão Económica e Financeira, agravando as penas ou seja quem fizer uma gestão danosa (e há muitos espertinhos que já a fizeram e depois deram “à sola”) será punido não com os tais 10 anos de exercício de qualquer cargo nos órgãos sociais, mas deveria ser irradiado de sócio e como tal não exercer nunca mais qualquer cargo no Belenenses. Esta medida seria um aviso às gestões futuras do Belenenses e penso que seria uma medida mais credível e pela verdade desportiva. Assim para maus dirigentes, haveria as medidas necessárias, que então seria a inibição de qualquer exercício de mandato.
Outra questão prende-se com a artigo 61º, referente às competências da Direcção, em que na alínea g) e f) se faz referência despropositada ao Conselho Geral. Ora sabendo, que o Conselho Geral é um órgão meramente consultivo (artigo 67º), não faz sentido a Direcção responder perante ele, ou seja o conhecimento do Conselho Geral perante matérias económicas não faz sentido, pois este é um órgão hierarquicamente inferior. Nestas matérias, o conhecimento do Conselho Geral é irrelevante, pois o mais importante é a garantia da responsabilidade da Direcção perante a Assembleia Geral e o Conselho Fiscal e Disciplinar. Não se trata de uma redução de poderes, mas sim de uma clarificação de responsabilidade da Direcção.
Outra matéria é a relativa aos sócios de mérito e sócios honorários (Secção Quinta – Louvores e Galardões) em que várias facções do Belenenses não querem o parecer do Conselho Geral. Eu admito também essa hipótese, porque neste caso não interessa a opinião de um órgão meramente consultivo, interessa pois a vontade dos sócios, representada na Assembleia Geral e nada mais. Penso que a Comissão de Revisão dos Estatutos vai propor a alteração deste ponto e já na próxima Assembleia irá revelar a suas pretensões e a vontade dos sócios.
Para já seria importante este passo, a da Revisão dos nossos Estatutos.
Em segundo lugar, teremos que fazer muito mais Simpósios, que unam os Belenenses, de Norte a Sul. Seria um ponto de discussão de ideias extremamente importante. E porque não criar um grupo constituído por pessoas jovens para debater essas mesmas ideias? Um grupo que no seu domínio tenha o Belenenses sempre presente. Um grupo que não se quer apenas para dizer umas “coisitas”, ou para influenciar este ou aquele, ou para ter poderes a mais que os outros, isso não. Há que criar um grupo que represente a vontade da mudança (já que o Conselho Geral como órgão não o consegue), e essa vontade tem de estar presente no dia-a-dia ou em reuniões semanais ou mensais. Conforme a disposição de cada um. Seria apenas e exclusivamente um conjunto de jovens a debater pelo melhor do Belenenses. Cada um com a sua ideia. Cada um percebendo mais disto do que aquilo. Cada um ajudaria no que sabe melhor. Mas atenção, isto é só uma ideia. É mais uma ideia entre muitas outras. Mas pelo menos tentei. E tentar por vezes no Belenenses é visto como algo tenebroso e mau. Não me parece. Há que arriscar.
Em terceiro lugar e muito importante estaria a reformulação do clube em termos económicos e estratégicos. Penso que a gestão económica do Belenenses “faliu” ao longo dos anos. Não fomos capazes de modernizar-nos. E assim parece que nos perdemos no tempo. O passado é algo que nos lembramos com alegria. O presente é visto como incerteza.
Mudar a nossa gestão (mais virada para os sócios e para o risco, pois sem risco na actividade económica leva-nos ao descalabro) e mudar também a concepção de clube-empresa. É importante saber que nos preocupamos com o nosso défice, mas não podemos fazer disso uma obsessão (como é a típica gestão portuguesa), temos de nos virar para as “massas”, ou seja para os sócios, pois são eles que estão sempre presentes. E são eles que queremos que invistam no clube. Confiança e credibilidade devem ser sinónimos de uma boa gestão.
Em 4º lugar, e para fazermos face a esta crise (que na minha opinião não é só económica, é também de ideias, de desinteresse pelo clube, numa concepção de “deixa andar que isto com o tempo resolve-se”), penso que o projecto imobiliário tem de avançar. É muito urgente, até porque o Belenenses, neste preciso momento, só poderá ter uma receita extra através da venda de jogadores, nada mais. E ter um projecto imobiliário, aproveitando o que de bom tem a zona de Belém (com a sua crescente actividade turística) é caminhar para a auto-suficiência e para o aumento dos lucros do Belém. É extremamente importante ter fontes adicionais de receitas (e não são as de culinária!), pois as receitas que temos não fazem frente à nossa conjuntura (basta ver o estádio do Restelo “às moscas”.)
E por fim, desenvolver as camadas jovens, como muitos o tem dito e bem. Será importante comprar jogadores a baixo custo, formá-los, ter resultados com eles e vende-los por um preço alto. Será também importante ter uma boa prospecção de mercado, pois só assim, podemos encontrar jovens valores.
Espero que nos concentremos nestas questões e não nas questões acerca do Deco – “porque é que ele foi embora do Benfica?”, perguntou assim um elemento que estava no Simpósio. Ora isto não abona, para uma discussão sobre o Belém e sobre a nossa formação.
Como Jaime Pacheco afirma “O Belenenses tem de parar de ser o clube simpático”.
Precisamos de um Barack Obama, de um homem reformador e que toque nas “feridas” que tem o Belenenses, prevendo e antecipando soluções, implementando novas ideias e conclusões. E precisamos de um Dr. House, de um homem pragmático, que diga a verdade, mesmo doendo a alguns.
Saudações Azuis!
Nuno Valentim
quinta-feira, fevereiro 12, 2009
Quarto de Hora à Belém - XXVII
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