sexta-feira, março 07, 2008

JOSÉ PEREIRA E VICENTE NO MUNDIAL



EPISÓDIO #08: JOSÉ PEREIRA E VICENTE NO MUNDIAL

Em Julho de 1966, a Selecção Nacional obteve o seu maior êxito de sempre, ao conseguir o 3º lugar na fase final do Campeonato do Mundo de Futebol disputado em Inglaterra. Para este feito muito contribuíram dois dos mais carismáticos jogadores do Belenenses de sempre, o guarda-redes José Pereira, o «pássaro azul», e o defesa central, Vicente.


Vicente e José Pereira, 5º e 6º, em cima e da esquerda para a direita

Portugal jogou com a Hungria (3-1), Bulgária (3-0), Brasil (3-1), Coreia do Norte (5-3), Inglaterra (1-2) e URSS (2-1).

A equipa tipo da Selecção era:
José Pereira (Belenenses); Morais (Sporting, Alexandre Baptista
(Sporting), Vicente (Belenenses) e Hilário (Sporting); Jaime Graça
(V.Setúbal) e Coluna (Benfica);
José Augusto (Benfica), Eusébio (Benfica), Torres (Benfica) e Simões
(Benfica).

Vicente jogou os quatro primeiros jogos, tendo fracturado a mão no jogo contra a Coreia, o que o impediu de jogar com Inglaterra e URSS, embora a mim me tenha confidenciado que a verdadeira razão terá sido a de colocar José Carlos (Sporting) a jogar.

Vicente, esteve brilhante nos quatro jogos, em particular nos dois primeiros. Eis o que "A Bola" da época relatou sobre a actuação de Vicente no jogo frente à Hungria:
"Vicente foi um dos «gigantes» desta equipa de gigantes. O seu primoroso trabalho dos primeiros trinta minutos, em que as circunstâncias lhe pediram o esforço e o talento que só um super dotado para a função estaria em condições de poder dar, atingiu as raias do magnífico, do insuperável. Vicente jogou, sempre, de maneira superior, mas, nesse período, deu uma lição completa e perfeita da arte de jogar futebol defensivo. Era-lhe indiferente que os lances corressem à flor da relva, ou se desenvolvessem pelo ar, que o adversário atacasse em fúria, ou surgisse em tentativas de «souplesse», pois, de um modo ou doutro, tudo o que poderia constituir perigo para as balizas de Portugal morria nessa «barreira de músculo e de cérebro», que era o calmo, o subtil, o talentoso Vicente. A exibição deste magnífico jogador, que atinge agora, porventura, a maturidade plena, muito embora os anos pretendam fazer dele um «veterano», não teve, em boa verdade, um só minuto, um só instante de descontrole nervoso, ou de quebra de rendimento, mas aquele período inicial, em que teve de jogar por si e por outros, não tem paralelo com a actuação de qualquer outro futebolista que tenhamos visto no desempenho das funções que lhes estavam confiadas."


Pelé e Vicente num dos três jogos em que o Rei foi secado pelo belenense

José Pereira, o «Pássaro Azul», um dos mais famosos guarda-redes que representaram o Belenenses e que apenas não jogou o jogo inaugural, contra a Hungria, também foi uma peça importante da Selecção. Esteve muito bem no jogo que afastou, sensacionalmente, os bicampeões mundiais brasileiros, dos quartos de final:
"Se outras razões não houvesse para justificar o nosso triunfo, bastaria essa diferença profunda entre o trabalho de José Pereira e o de Manga, mal batido nos dois primeiros golos. O nosso, ao contrário, cedo deu confiança à equipa com algumas blocagens seguras, não de muito perigo mas de mais perigo do que aquelas que Manga transformou em golos. Não teve culpa no golo sofrido."


Apesar da má qualidade é possível vislumbrar na foto a extraordinária agilidade de José Pereira, que dele fez um guarda-redes lendário


O Pássaro num voo acrobático

Como já foi dito, Portugal, ao vencer a União Soviética no jogo de atribuição do 3º e 4º lugar, terminou inesperadamente no pódio do Campeonato do Mundo de 1966, logo na primeira vez que conseguiu chegar à fase final, e talvez, não fora a "lesão" de Vicente, pudesse ter sido campeão mundial, porque aquela "infantilidade" de José Carlos contra a Inglaterra dificilmente teria sido cometida pelo grande Vicente...

O próximo episódio intitular-se-á "A Maldição do Mundial de 1966", e relatará a fatalidade que caiu sobre estes dois grandes ídolos da História do C.F. "Os Belenenses", pouco depois de terem atingido o cume das suas carreiras no Campeonato do Mundo de Inglaterra.

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