sábado, julho 14, 2007
Mano: um azul a defender
Os acontecimentos da madrugada de sexta-feira, no Canadá, foram o melhor que poderia ter acontecido à FPF. Dois jogadores portugueses são expulsos a minutos do final da partida dos oitavos-de-final, quando Portugal se encontrava praticamente de fora da prova, e no espaço de dois minutos a imagem de fraqueza e incompetência dos dirigentes federativos foi atenuada pelo aparecimento de dois novos (e infelizes) protagonistas, os quais serão oportunamente crucificados em praça pública.
Vamos por partes.
Uma equipa nacional sub-20 parte para o outro lado do Atlântico comandada por um homem a quem sobeja vaidade mas falta «obra»: José Couceiro. A FPF, entidade patronal deste técnico, resolve nada fazer perante o autentico descalabro que foi a participação de Portugal no Europeu de Esperanças, na Holanda, e assume assim a responsabilidade de enviar a comandar o grupo de trabalho alguém que não sabe liderar, não se sabe comportar e não sabe reconhecer o falhanço.
A equipa produz exibições entre o razoável e o paupérrimo, e quando o final da sua participação no mundial se aproxima, um adversário chileno agride (pelo menos é o que me parece nas imagens televisivas) um avançado de Portugal. Mano, a 15/20 metros assiste à agressão e resolve partir para cima do chileno, projectando-o para o chão. Mano deu o pretexto, e o chileno aproveitou o brinde, fazendo o típico teatro dos futebolistas.
O árbitro corre para Mano e exibe-lhe o vermelho directo, deixando (segundo creio) impune o primeiro agressor (chileno). Aqui termina a primeira parte da polémica. A única pela qual se pode responsabilizar o Mano.
Segue-se uma situação caricata, com um jogador português (a quem chamam «Zequinha») a «roubar» o cartão ao árbitro, perante o olhar meio atónito dos companheiros, e com José Couceiro de cabeça perdida colado à linha lateral sem saber muito bem o que fazer. Zequinha é expulso. Aqui termina a segunda parte da polémica, à qual Mano é alheio.
O jogo termina e Portugal é merecidamente eliminado do torneio. A FPF, comprometida com mais um fracasso do nosso futebol juvenil (já não ganhamos nada há tanto tempo…) resolve encontrar dois bodes expiatórios para o sucedido: Mano e Zequinha.
A milhares de quilómetros de distância, a comunicação social (esse poder tão apodrecido como os poderes que, com moralismo bacoco, critica) faz uma selecção criteriosa dos acontecimentos: esquece a agressão do chileno, e coloca as duas situações seguintes (a de Mano e a de Zequinha) no mesmo saco (como se tivessem agido em bloco e concertadamente), dando destaque especial à situação.
Laurentino Dias procura brilhar para a foto, condenando o sucedido e fazendo apelos vazios de conteúdo e a FPF isola os dois jogadores em causa, colocando-os num plano moral inferior, e elevando-se a um estatuto que manifestamente não tem!
Centrando-me no Mano (aquele que objectivamente podemos defender!), direi que se perspectiva uma enorme injustiça: irá certamente pagar por tudo aquilo que ao longo dos anos foi feito pelas diversas selecções nacionais, das agressões a árbitros dos AA, à destruição de balneários franceses pela geração Ronaldo (que castigam receberam então?).
É jogador do Belenenses, e os poderes instituídos não terão o menor problema em prejudicar jogador e clube neste processo. Penso até que alguém prazer terão.
A Federação passará por mais um fracasso desportivo como se não fosse nada consigo. As consequências de que fala o patético comunicado federativo deverão cair sobre os jogadores (os dois, claro, que Coentrões e C.ª serão esquecidos neste processo), e o circo mediático em volta do caso será rapidamente desmontado, para se estabelecer num outro «show» qualquer, gerador de receitas para as empresas produtoras de notícias.
O Belém terá de ser mexer (estou aliás certo de que já mexe!), e Mano terá de ser protegido deste patético julgamento popular montado pela estupidez jornalística, com alto patrocínio da FPF e do Sr. Secretário de Estado. O nosso jogador não poderá pagar pelos sucessivos erros da Federação, nem servir de bode expiatório para a incompetência alheia. Não poderá carregar nas suas costas as culpas da destruição de balneários ou da agressão a árbitros. Terá de ser punido por aquilo que na verdade fez: agrediu (de forma não brutal!) um adversário que antes havia agredido um português. Tudo o que for somado a este acontecimento é perfeitamente descontextualizado, e revelador da podridão (aliás conhecida) a que chegou a organização do futebol em Portugal.
Força Mano, eu estou ao teu lado.
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