domingo, agosto 14, 2005

Lançando a discussão

Apresentamos de seguida um interessante artigo da autoria de Fernando Guerra, publicado no jornal "A Bola" de 3ª feira, onde o autor dá a sua visão relativamente à questão do 4º grande e quão complicado é estabelecer essa definição. Fica lançada a discussão e que cada um dos leitores nos apresente a sua visão relativamente a esta questão.

Continua…

Em “A Bola” de 3ª feira
Fernando Guerra
Vamos conversar

«Quarto grande não existe. Vejo sim, neste momento, um grupo pequeno com dinâmica para formar uma classe média forte e competitiva com condições para emprestar qualidade ao futebol português. Quem são? Belenenses, V. Guimarães, V. Setúbal, Marítimo, Boavista e Sp. Braga. NÃO percebo muito bem o que anda a passar-se pela cabeça de quem manda nos clubes, mas a verdade é que no espaço de uma semana depararam-se-nos dois presidentes a reivindicar o aluguer do quarto lugar em termos de grandeza no edifício do futebol português.

Primeiro foi João Loureiro, durante uma conferência de Imprensa algo descontextualizada, a reclamar para o Boavista esse privilégio suportado na riqueza dos resultados recentes. Depois aconteceu com António Salvador, pelos vistos entusiasmado com o sucesso desportivo e social que o Sp. Braga espalhou em Sevilha, no Troféu Ramon Carranza.

Não ligo à fundamentação, porque, quer num caso quer noutro, ela se apresenta precária, nem tão-pouco à argumentação, porventura justificada dentro dos parâmetros que são trazidos à colação. O que se deve questionar são esses estranhos sinais de vaidade e a necessidade de serem proclamados a propósito de qualquer coisa cuja importância não ultrapassa a fronteira do circunstancial.

A questão do quarto grande não é de hoje e sinceramente não vejo que a discussão que ela possa suscitar se revista de algum interesse, na medida em que é difícil estabelecer regras de medição pacífica e amplamente aceites, por não existir, em rigor, um quadro que permita reconhecer quem quer que seja como parceiro consensual dos três colossos, estes sim habitantes de um mundo diferente.

Se olharmos para trás, numa viagem às presenças nos campeonatos, o Belenenses aparece como dono do tal quarto lugar, tendo logo atrás os dois Vitórias, o de Guimarães e o de Setúbal. Se optarmos pelo recurso à Taça de Portugal, a segunda competição mais importante, então descobrimos cinco títulos do Boavista, contra três do Belenenses e do V. Setúbal e um do Sp. Braga. Mas se acrescentarmos mais um pormenor de avaliação, verificamos que é o clube setubalense quem domina em número de presenças no Estádio Nacional, nada menos de nove.

Ainda não sendo possíveis conclusões, há a possibilidade de recurso aos percursos internacionais, registando-se aqui uma clara distância do Boavista emrelação aos concorrentes ao nível das participações na Liga dos Campeões, por ter sido o único até agora que lá conseguiu entrar.Na antiga Taça das Taças a vantagem continua a pertencer ao clube do Bessa, mas aí já com Sp. Braga e V. Setúbal na linha do horizonte. Quanto à Taça UEFA, a mais frequentada, de novo Boavista na frente com o Vitória sadino muito próximo. Mais longe, surgem V. Guimarães, Belenenses, Marítimo, Sp. Braga e por aí adiante.

Os números indicam, portanto, que uns se adiantam cá dentro, enquanto outros se manifestam com mais força lá fora, em espécie de bailado em grupo restrito onde é difícil eleger um protagonista.

Creio, sinceramente, que a mania do quarto grande é desajustada porque não deve ser encarada à luz dos feitos do antigamente nem tão-pouco resumir- se ao brilhantismo de uma série de resultados alcançada em determinado período de tempo. A grandeza é fruto do trabalho, da competência e do esforço diários: é constante e sempre numa perspectiva de crescimento. Os arrebatamentos desportivos tão avidamente cantados apenas servem para esconder a pequenez não dos clubes por serem todos enormes, mas de quem os gere, o que não encerra ponta de reparo nem a João Loureiro, nem a António Salvador.

O que eu penso é que essas manisfestações são escusadas, tanto mais que subsiste outro aspecto, talvez o mais importante de todos e que se prende com o significado e a implantação de cada clube no espaço social e aqui, seguramente, V. Setúbal, Sp. Braga, V. Guimarães ou Marítimo aparecem à cabeça.

Um título sem uma multidão adepta para o festejar é como nos colocarem no prato um manjar mal condimentado, razão por que os jogadores setubalenses desfrutaram a última conquista na Taça de Portugal no meio de uma cidade que saiu à rua para abraçar o seu clube.

Pessoalmente, não vejo quarto nem quinto grande e considero até que essa pretensa designação cheira um bocado a bolor. Vejo sim, neste momento, um grupo pequeno com dinâmica para formar uma classe média forte, competitiva e também com condições para emprestar qualidade ao futebol português e contrariar a intocabilidade de Benfica, Sporting e FC Porto. Quem são? Belenenses, V. Guimarães, V. Setúbal, Marítimo, Boavista e Sp. Braga.

A ordem tanto me faz...»

Artigo compilado pelo Rui Vasco com introdução de Luciano Rodrigues.

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