O Belenenses dos anos 40, era um clube estabilizado no topo do desporto nacional. Não tinha a primazia de títulos, como no período até 1933 (entre 1926 e 1933, como vimos, alcandorou-se a essa posição), mas vinha logo a seguir a Sporting e Benfica, em relativa igualdade com o F.C.Porto. Era o quarteto dos clubes grandes, em que o Belenenses esteve claramente durante 50 ou 60 anos.
Em popularidade, embora o Benfica e o Sporting lhe levassem a palma, pela sua maior antiguidade, por maiores cumplicidades na imprensa, por causa dos célebres duelos ciclísticos entre Nicolau e Trindade, também se cotava como um dos 4 grandes, o que era aferível, entre outras evidências, pelas assistências aos jogos – impressiona ver as Salésias, com uma lotação oficial de 21.000 pessoas, cheia de público, e ainda rodeada de mais gente pela encosta sobranceira ao peão acima. A diferença desses tempos, e de outros posteriores já no Restelo, para o presente é demasiado triste... Pode ver-se também o “encorpamento” do clube nos anos 40, através do aumento da sua massa associativa até números bastante significativos: em 1943, há um pouco mais de 4.000 sócios; em 1944, perto de 5.000; em 1945, atingem-se os 6.800; em 1946, quase se alcançam os 9.000; em 1946, lança-se a campanha dos 12.000 sócios. Note-se que, naqueles tempos, os sócios eram adeptos de corpo inteiro, coisa bem diferente do que acontece com uma grande parte dos actuais. Por outro lado, de 26 filiais e delegações em 1939, passa-se para 43, uma década depois.
Vejamos, sucintamente, o que aconteceu no Futebol, ano a ano:
1940 - Finalista da Taça de Portugal. 3º Lugar no Campeonato Nacional. Melhor defesa no Campeonato Nacional. em Futebol. Ficámos a 4 pontos do 1º (Sporting) e a 1 ponto do 2º (F.C.Porto). 3º Lugar no Campeonato de Lisboa. Campeão de Lisboa de Juniores, em Futebol.
1941 - 3º Lugar no Campeonato Nacional. Melhor ataque, melhor defesa (2ª vez consecutiva) e melhor goal-average no Campeonato Nacional (59-22). Ficámos a 4 pontos do 1º (Sporting) e a 1 ponto do 2º (F.C.Porto). Foi pena que tivéssemos começado mal o Campeonato pois, na 2ª volta, fomos a equipa que obteve maior pontuação. Relativamente ao Benfica, recuperámos 5 pontos de atraso e concluímos com 1 ponto de avanço. Finalista da Taça de Portugal. 3º Lugar no Campeonato de Lisboa (com goleada 8-3 sobre Benfica mas derrota 7-1 com o Sporting).
1942 - Vencedor da Taça de Portugal (após 3ª presença consecutiva na Final; Triunfo por 2-0 sobre o Vitória de Guimarães). 3º Lugar no Campeonato Nacional. Goal average: 66-32. Fomos a 2ª equipa mais pontuada na 2ª volta. Destaque para as expressivas vitórias sobre o Benfica (4-0, nas Salésias), o Sporting (3-1 nas Salésias e 4-1 fora) e o F.C.Porto (7-3 em casa e 3-2 fora). 3º Lugar no Campeonato de Lisboa.
1943 - 3º Lugar no Campeonato Nacional (4º presença consecutiva no pódio). Melhor ataque, melhor defesa e melhor goal-average no Campeonato Nacional (78-20). Totalmente vitorioso nos jogos em casa do Campeonato Nacional. O Campeonato esteve em vias de ser ganho. A meio da competição, liderávamos, em igualdade de pontos com o Benfica, e com 3 pontos à maior sobre o Sporting. No final, o Belenenses ficou a 2 pontos do 1º (Benfica) e a 1 ponto do 2º (Sporting). Fomos, na verdade, a melhor equipa, tendo vantagens sobre todas as outras no cômputo dos 2 jogos. Então, porque perdemos o campeonato? Duas arbitragens vergonhosas foram decisivas: justamente as que ditaram as nossas derrotas em casa do Sporting e do Benfica. No primeiro caso, com um golo injustamente anulado ao Belenenses; no segundo caso, com 2 penalties para o Benfica que só existiram na imaginação do árbitro. Mesmo assim, à entrada da última jornada, a 2 pontos do Benfica e a 1 ponto do Sporting, com o Benfica a jogar fora e dispondo nós de vantagem sobre ambos os adversários em caso de empate, podíamos ainda ser campeões. E essa hipótese parecia ganhar consistência a 45 minutos do fim. Ao intervalo o Belenenses ganhava tranquilamente ao Leixões, o Sporting estava em dificuldades com o Unidos do Barreiro, e o Benfica estava a sofrer (e empatado) em Coimbra, contra a Académica. No final, porém, o Benfica ganhou por 4-3, e o Sporting acabou por se desembaraçar, vencendo por 5-1, de pouco ou nada valendo o triunfo do Belenenses sobre o Leixões por 5-0. Deve salientar-se a clareza com que, nas Salésias, derrotámos os nossos maiores rivais: 5-0 ao Sporting, 4-0 ao F.C.Porto, 5-2 ao Benfica. 3º Lugar e melhor Defesa no Campeonato de Lisboa de Futebol
1944 - Campeão de Lisboa (nas Salésias, vitórias 4-2 e 5-1 sobre Benfica e Sporting, respectivamente. Fora, vitória 3-1 sobre o Soprting). Melhor Ataque e melhor Defesa no Campeonato de Lisboa (48-12). Melhor conjunto de Pontos nas 4 Categorias do Campeonato de Lisboa. No Campeonato Nacional, ficámos num decepcionante 6º lugar mas, atenção, andámos na luta pelo título. No fim da 1ª volta, éramos os líderes do Campeonato: o Sporting estava a 1 ponto, o Benfica e o Atlético a 2, o F.C.Porto, a 6.
1945 - 3º Lugar no Campeonato Nacional. Goal average: 72-29. Maior número de golos marcados num só jogo do Campeonato Nacional – 15, record que se mantém (vitória 15-2 sobre Académica).. Outra grande goleada, das maiores de sempre: 14-1 ao Salgueiros. O Belenenses ficou a 3 pontos do Benfica e com o mesmo número de pontos do Sporting. Foi a equipa mais pontuada na 2ª volta (ganhado a embalagem que o faria Campeão Nacional e Campeão de Lisboa na época seguinte). Lutou até ao fim pelo título, do qual foi em grande medida afastado por uma vergonhosa e insólita situação ocorrida na antepenúltima jornada, que teve lugar em 25 de Março de 1945: Em jogo disputado no campo do Sporting, o Belenenses perdeu 2-1 mas marcou 3 golos. O árbitro validou os 3 golos azuis mas um juiz de linha, de nome Rosa (se calhar de caule verde, flor vermelha e muitos espinhos...), obrigou o árbitro a anular dois desses golos do Belenenses, ameaçando ir-se embora se as suas indicações não fossem acatadas. Incrível mas verdadeiro! E andamos nós, hoje em dia, carregados de emprestados do Benfica e do Sporting! Quando não há vergonha, não há brio nem há honra, as coisas estão muito mal! Por isso, hoje, o Belenenses está “de joelhos”, com poucos que o amem a sério (eu não posso conceber que alguém goste muito do Belenenses e aplauda esse tipo de empréstimos...). 3º lugar no Campeonato de Lisboa. Início de relação privilegiada com o Real Madrid, com quem empatámos 2-2 em Espanha (deixando cartel, que renderia juros) e a quem ganhámos por 1-0 nas Salésias. Esse tipo de contactos foi mais um golpe de asa do Belenenses – nos tempos em que se atrevia a tanto...
1946 - Campeão Nacional. Goal Average: 74-24. Melhor defesa no Campeonato Nacional. Invicto nos jogos em casa do Campeonato Nacional. Campeão de Lisboa (3 pontos de avanço sobre o Sporting, 5 sobre o Atlético e 6 sobre o Benfica). Melhor conjunto de Pontos nas 4 Categorias do Campeonato de Lisboa. Vice Campeão de Lisboa de Juniores. 6 jogadores do Belenenses presentes na vitória da selecção nacional de Futebol em jogo contra a França. Feliciano é considerado “o melhor defesa central da Europa” pela Imprensa francesa.
A conquista do Campeonato Nacional foi naturalmente um marco na vida do Belenenses, embora na altura não se lhe tenha dado tanta relevância como hoje imaginaríamos. Por um lado, na altura, não se pensava que era o 1º campeonato a ser ganho, pois se lhe somavam os 3 Campeonatos de Portugal que, para todos os efeitos, eram a forma de escolher o melhor de Portugal. Pensou-se, pois, somos Campeões de Portugal pela 1ª vez. Depois, nunca se imaginou que o Belenenses não mais repetisse o feito. De qualquer maneira, houve grandes festejos- A aproximação e chegada a Lisboa da caravana belenenses foi apoteótica. Milhares de belenenses tinham-se deslocado a Elvas, em carros, camionetas e por comboio.. A partir de Setúbal, havia aclamações em quase todas as localidades por onde se ia passando, cada vez mais intensas à medida que se aproximava a margem Sul do Tejo. Em Cacilhas, o largo principal, em frente do local onde se apanham os barcos, estava repleto de pessoas, que queriam festejar o título e vitoriar os jogadores. Do outro lado, avistava-se o Cais do Sodré inundado de gente, que se ia tornando mais nítida à medida que o barco se aproximava. As aclamações estenderam-se desde o Cais do Sodré, por toda a Avenida 24 de Julho, ladeada por milhares de pessoas, num cordão quase ininterrupto, até culminar entusiasticamente diante da sede em Belém, onde os jogadores, em especial o Capitão Amaro, e também o treinador Augusto Silva vieram à janela agradecer os aplausos e incentivos. A festa do Belenenses! A vitoria, imprescindível, no último jogo, foi arrancada a ferros. Ao intervalo, o Belenenses perdia por 1-0. Ouvi da boca do campeão sobrevivo Artur Quaresma, que alguns jogadores mais experientes (entre os quais ele próprio) reuniram a equipa, procuraram readquirir a calma e reagrupar as forças, dizendo: “Nós temos que ganhar isto!”. E ganharam!!! (Repare-se que, sem factores anómalos de arbitragens vergonhosas, o Belenenses teria sido campeão em 1943, 1945 e 1946; e talvez fosse hoje a maior força desportiva nacional).
1947 - Melhor Defesa no Campeonato Nacional. Goal average: 66-31. 3º Lugar no Campeonato de Lisboa (última edição). 5ª vez consecutiva melhor defesa do Campeonato de Lisboa. Campeão Nacional de Juniores. Campeão de Lisboa de Juniores. Convidado pelo Real Madrid para a inauguração do seu estádio. O Belenenses discutia a primazia do prestígio extra-fronteiras do futebol português.
1948 - 3ª Lugar no Campeonato Nacional. Melhor defesa no Campeonato Nacional (2ª vez consecutiva). Goal average: 76-30. Importa salientar que o Belenenses, neste Campeonato, foi durante a maior parte do tempo a equipa mais bem posicionada para conquistar a vitória final: Assim, ao terminar a 1ª volta, O Belenenses estava em 1º, com mais 2 pontos que Benfica, Sporting e Estoril, e mais 3 que F.C.Porto); mais tarde, á 18ª jornada (realizada em 28 de Março de 1948), iniciado já o último terço do Campeonato, o Belenenses comandava com 30 pontos, seguido do Benfica com 29, do Sporting com 28 e do F.C.Porto com 26. De salientar as vitórias em casa sobre o Sporting por 3-2, sobre o Benfica, por 4-1 e sobre o F.C.Porto, por 3-0, bem como o empate 4-4 em casa do Sporting, e a vitória 2-0 em casa do F.C.Porto. Ainda nesta época, o Belenenses foi finalista da Taça de Portugal em Futebol (perdeu com o Sporting, em parte pela desmoralização provocada, na véspera, pela notícia de que Amaro, vítima de doença, não podia estar presente e tinha que abandonar o Futebol. Esse golpe de infortúnio, em que a história do Belenenses é fértil, foi anunciado publicamente no dia do jogo pelos altifalantes do Estádio Nacional). Obteve o melhor conjunto de Pontos nas 4 Categorias do Campeonato de Lisboa. Foi Campeão de Lisboa de Juniores.
1949 - 3º Lugar no Campeonato Nacional. O começo foi oscilante mas, na 2ª volta, fomos a 2ª equipa mais pontuada.
Julgamos não ser necessário acrescentar nada para mostrar a potência futebolística que era o Belenenses.
Nas modalidades extra-futebol, conquistaram-se vários títulos e ocorreram vários factos relevantes, que a seguir resumimos:
1940 - Campeão de Lisboa de Andebol (de 11). Campeão Nacional e de Lisboa de Corta-Mato por Equipas. Manuel Nogueira, Campeão Nacional de Corta Mato e Campeão Nacional de 5.000 metros (pela 3ª vez) e 10.000 metros (pela 2ª vez) em Pista.
1941- Campeão de Lisboa de Andebol (de 11). Vice Campeão Nacional de Andebol (de 11). Campeão de Lisboa, em Râguebi. Campeão de Lisboa de Corta Mato, por Equipas. Campeão de Lisboa de Juniores, em Basquetebol Masculino. Lucília Silva, Campeã Nacional em 4 diferentes provas de Atletismo.
1942 - Vice Campeão de Lisboa em Basquetebol Masculino. Vice Campeão de Lisboa, em Râguebi.
1943 - Campeão de Lisboa, em Andebol. Vice Campeão de Portugal, em Râguebi. Campeão de Lisboa de Râguebi. Campeão de Lisboa de Atletismo, em Equipas Femininas. António Pereira, Campeão Nacional de 110 metros barreiras pela 3ª vez (2ª consecutiva). Campeão de Lisboa de Basquetebol Feminino. Ana Linheiro vence Prova Paço d’Arcos-Cascais, em Natação. Maria Lopes Mendes vence Travessia do Tejo, em Natação.
1944 - Campeão de Portugal e de Lisboa em Equipas Femininas de Atletismo. Francelina Moita, recordista ibérica de Dardo. Vice Campeão de Lisboa, em Râguebi. Ana Linheiro bate 3 Records Nacionais em Natação. Maria Helena Mendes vence Travessia do Tejo, em Natação (2ª vez consecutiva)
1945 - Campeão Nacional de Basquetebol Masculino. Vencedor da Taça de Portugal em Basquetebol Masculino. Campeão de Lisboa em Basquetebol Masculino. Campeão de Lisboa de Juniores, em Basquetebol Masculino (em Basquetebol, ganhou-se tudo o que havia para ganhar!). Campeão de Lisboa em Râguebi. Campeão de Lisboa em Ténis de Mesa. Ana Linheiro é campeã e recordista nacional dos 100 metros livres, e 100 e 200 metros costas em Natação, e ainda recordista Júnior de 200 metros livres. Ana Linheiro vence Travessia da Póvoa, em Natação. Peggy Brixhe, Campeã Nacional de Ténis. 1º Jogo Internacional de Andebol em Portugal tem lugar nas Salésias.
1946 - Campeão de Lisboa em Basquetebol Masculino (2ª vez consecutiva). Vice Campeão Nacional de Atletismo, em Equipas Femininas. Campeão de Lisboa de Atletismo em Equipas Femininas. Peggy Brixhe, Campeã Nacional de Ténis.
1947 - Campeão de Lisboa de Atletismo, em Equipas Femininas. Campeão de Lisboa, em Andebol (de 11). Vice Campeão de Lisboa em Basquetebol. Vice Campeão de Lisboa em Râguebi. Campeão de Lisboa de Juniores, em Hóquei em Campo. Peggy Brixhe, Campeã Nacional de Ténis.
1948 - Campeão Nacional de Atletismo em Equipas Femininas (ganhando todas as provas). Campeão Nacional em Andebol (de 11). Campeão de Lisboa em Andebol de 11 (4ª vez, 2ª consecutiva). Vice Campeão de Lisboa, em Râguebi. Acácio Rosa, 1º Seleccionador e Treinador da Selecção Nacional de Andebol, presente no Campeonato do Mundo. Ginástica tem 256 praticantes.
1949 - Campeão de Portugal de Atletismo, em Equipas Femininas. Campeão de Lisboa de Atletismo, em Equipas Femininas. Joaquim Branco, detêm 3 recordes Nacional e 1 Ibérico de Atletismo. Campeão de Lisboa de Juniores, em Corta Mato. Vice Campeão de Lisboa, em Andebol. Vice Campeão de Lisboa em Râguebi. Peggy Brixhe, Campeã Nacional de Ténis. Construído Ginásio nas Salésias. Construída pista de Ciclismo nas Salésias, onde se conclui a Volta a Portugal desse ano.
Ao finalizar a década de 40, o Belenenses é não só um grande clube mas um clube de tradição. Artur José Pereira, Pepe e Augusto Silva são legendas do futebol português. A década de 40 marca a retirada, seja do número dos praticantes, seja do número dos vivos, de figuras maiores da vida do Belenenses, entre as quais registamos o seguinte:
1942 – Festa de homenagem a Artur José Pereira, principal fundador do clube
1943 – Morte de Artur José Pereira
1945 – Despedida de Ana Linheiro
1948 – Despedida de Artur Quaresma (com 1 Campeonato Nacional, 1 Taça de Portugal e 2 Campeonatos de Lisboa). Despedida do grande Mariano Amaro (idem). Despedida de Rafael (idem). Despedida de Rómulo Trindade (com 2 Campeonatos de Portugal, 1 Taça de Portugal e 2 Campeonatos de Lisboa em Basquetebol).
A década de 50 é caracterizada pela construção e inauguração do Estádio do Restelo e pela chegada de alguns jogadores que fizeram história: antes de todos, o grande e incomparável Matateu. A sua popularidade foi imensa em Portugal: durante cerca de uma década todos os miúdos queriam ser Matateu. Mas ultrapassou fronteiras – sinal disso, é que a sua morte, 40 anos depois dos seus tempos de glória, apesar de minorada pelos media portugueses escravizados a 3 clubes, foi notícia nos 4 cantos do mundo, incluindo na CNN! Depois, o seu Irmão Vicente, outra figura que se impôs internacionalmente, desde logo pela capacidade única de anular Pelé (começando jogo de estreia de Pélé nos seniores que, curiosamente, foi num jogo...Santos – Belenenses!). Foi referenciado por revistas de todo o mundo e, a meio da década de 60, dos futebolistas portugueses, só Coluna o igualava e Eusébio o ultrapassava em prestígio internacional! Também, José Pereira, que haveria igualmente de brilhar no Mundial de 1966, já perto do final da sua carreira. Ainda, Di Pace, o grande mago argentino. Igualmente treinadores de renome mundial nos serviram nos anos 50: Fernando Riera, Helénio Herrera, Otto Glória. Deve ainda destacar-se os múltiplos desafios internacionais com equipas de verdadeiro prestígio, a que o Belenenses audaciosamente se abalançou, com excelentes resultados.
Vejamos agora, também ano por ano, os factos principais referentes ao Futebol, na década de 50:
1950 – 4º lugar no Campeonato Nacional de Futebol. Augusto Silva é ainda é o mais internacional de todos os jogadores portugueses de Futebol. Vitória por 2-1 sobre o Borússia de Dortmund, em casa deste. Vitória por 4-1 sobre o Deportivo da Corunha. Vice Campeão de Lisboa de Juniores.
1951 - 9º lugar no Campeonato Nacional, durante longos anos a pior classificação de sempre (a seguir, Matateu vem mudar tudo). Semi-finalista da Taça de Portugal em Futebol. Vice Campeão de Lisboa de Juniores, em Futebol. Matateu ingressa no Belenenses. Marca 2 golos no 1º jogo oficial (vitória 4-3 sobre Sporting) e é levado em ombros no final (no dia em que o clube completa 32 anos). O Belenenses é o 2º clube com mais jogadores representados na Selecção Nacional de Futebol desde o início da sua actividade.
1952 – 4º lugar no Campeonato Nacional. No entanto, a três jornadas do fim, o equilíbrio dos 4 primeiros (Belenenses, Sporting, Benfica e F.C.Porto) era total: estavam empatados com 35 pontos! E o Belenenses, em caso de empate, seria sempre o vencedor, em todas as circunstâncias. As nossas hipóteses de sermos campeões, portanto, eram muito fortes. Infelizmente as últimas jornadas não nos correram de feição e o 4º lugar (na 1ª época de Matateu) constituiu uma grande desilusão. Ainda assim, terminou o Belenenses invicto nos jogos em Casa do Campeonato Nacional. Vice-Campeão de Lisboa de Juniores, em Futebol. Di Pace ingressa no Belenenses.
1953 - 3º lugar no Campeonato Nacional. Goal average: 60-29. Durante grande parte do Campeonato, o Belenenses ambicionou o título. No final da 1ª volta, está em 2º lugar, empatado com o Benfica. Matateu é o melhor marcador no Campeonato Nacional. Conquista da Taça “Lisboa”, em disputa com Benfica, F.C.Porto e Sporting. Campeão de Lisboa de Juniores. Vice Campeão Nacional de Juniores.
1954 – 4º lugar no Campeonato Nacional (com os mesmos pontos do Benfica, 3º classificado). No entanto, a classificação final não mostra a belíssima prova que o Belenenses fez até à queda nas últimas jornadas. Por exemplo, a meio do Campeonato, o Belenenses liderava, empatado com o Sporting, com 1 ponto de avanço sobre o F.C.Porto e 4 sobre o Benfica. Semifinalista da Taça de Portugal. Vice Campeão de Lisboa de Juniores. Vicente ingressa no Belenenses. Fernando Riera torna-se treinador. Festa de despedida de Feliciano.
1955 - 2º lugar no Campeonato Nacional (o tal título perdido para o Benfica a 4 minutos do fim, com muita infelicidade, e a colaboração do árbitro – cunhado de um dirigente benfiquista... - que não validou um golo, que daria a vitória no jogo e no Campeonato, apesar de a bola estar, no mínimo, 20 cm dentro da baliza, como reconheceu o próprio guarda redes sportinguista.). Matateu é o melhor marcador no Campeonato Nacional. Participação na Taça Latina com Milão e Real Madrid e Matateu a ser levado em ombros. Belenenses vence Vasco da Gama por 2-1. Vice Campeão de Lisboa de Juniores. Festa de Homenagem a Serafim das Neves.
1956 - 3º lugar no Campeonato Nacional. Goal average: 67-25. Semifinalista da Taça de Portugal. Campeão Nacional em Reservas (Torneio Octogonal da FPF). Vitória 2-0 sobre Stade de Reims, nesse ano finalista da Taça dos Campeões Europeus (o que repetiria 3 anos depois).
1957 - 3º lugar no Campeonato Nacional. Invicto nos jogos em Casa do Campeonato Nacional. O Belenenses é o 3º clube mais representado na Selecção Nacional de Futebol desde o início da sua actividade (desde Abril de 1957 até hoje, mantém o 4º lugar). Vitórias por 2-1 sobre o Newcastle e por 3-1 sobre o Saint’Etienne. Helénio Herrera contratado para treinador.
1958 – 4º lugar no Campeonato Nacional. Vitórias sobre a selecção do México (3-0) e sobre o Barcelona e o Valência (2-1), em Futebol. Vice Campeão Nacional de Juniores.
1959 – 3º lugar no Campeonato Nacional, invicto nos jogos em Casa. Goal average: 65-27. A classificação final foi a seguinte: F.C.Porto e Benfica – 41; Belenenses – 38; Sporting - 31. Depois de um começo irregular, o Belenenses foi-se aproximando do Benfica, que liderou durante muito tempo. O F.C.Porto, curiosamente, também não começou bem. O Sporting esteve sempre fora da luta pelo título. No fim da 1ª volta, o Belenenses estava em 2º lugar, a 3 pontos do Benfica. Chegou a reduzir a diferença só para 1 ponto mas ela voltou a aumentar. Em 1 de Fevereiro de 1959, o Belenenses, empatado com o F.C.Porto e a 3 pontos do Benfica, recebeu a visita do Benfica. Grande enchente no Restelo, apesar da grande tempestade que se fez sentir. Esgotou-se a lotação (que era então de 44.000 lugares). Uma multidão impressionante resistiu estoicamente a um jogo que talvez devesse ter sido adiado. O estado quase impraticável do terreno prejudicou a equipa mais leve e tecnicista – a do Belenense (claro!...). No último minuto, depois de o Belenenses muito porfiar para chegar à vantagem, Matateu, na marcação de um pontapé de canto, fez a bola entrar na baliza do Benfica. Inusitadamente, o árbitro anulou o golo, alegando que apitara anteriormente, por a bola ter saído pela linha de fundo! Ninguém (imprensa incluída) ouviu o tal apito. A reacção de desespero dos jogadores encarnados mostra que tão pouco eles o tinham ouvido. A trajectória da bola tornava impossível que tivesse saído pela linha de fundo. Mas o árbitro não validou o golo. E impediu a vitória do Belenenses, que o deixaria, moralizadíssimo e em grande forma, a 1 ponto apenas do líder Benfica, e com 1 ponto de vantagem sobre o F.C.Porto (que acabou por ser campeão). Face ao enérgico e exemplar protesto do Belenenses (que na altura não se encolhia...), o jogo veio a ser repetido a 1 jornada do fim. Mas então, a 3 pontos do líder, o Belenenses já não podia ser campeão (registou-se um empate 1-1). No entanto...como teria sido se tivesse ganho, como merecera, algumas jornadas antes, e se não tivesse sofrido outra péssima arbitragem em Torres Vedras? Vencedor da Taça de Honra da AFL (vitórias por 1-0 sobre Sporting e Benfica).
1960 - Vencedor da Taça de Portugal (vitória 2-1 sobre Sporting na Final). 3º lugar no Campeonato Nacional de Futebol, quebrando a invencibilidade do campeão Benfica, no último jogo, na Luz. Goal average: 58-25.Vencedor da Taça de Honra da AFL (vitória 5-0 sobre Benfica e 2-0 sobre Atlético).
Note-se que por 9 vezes, quase metade dos 20 Campeonatos entre 1940 e 1960, o Belenenses esteve em boas condições para ser campeão, apesar de só o ter concretizado por 1 vez. Sem interferências da arbitragem, o Belenenses teria chegado a 1955 com 4 Campeonatos Nacionais, contra 2 do Benfica (sempre benificiado em 3 situações em que o Belenenses foi impedido de conquistar o título), 2 do F.C.Porto e 9 do Sporting. Como teria sido diferente o futuro! Apesar disso, nesses 20 anos, o Belenenses ficou 14 vezes (65%) no pódio, e 18 vezes (90%) nos 4 primeiros. A década de 50 segue, pois, o padrão de estabilidade como grande potência futebolística nacional. Dá gosto (e, ao mesmo tempo, entristece por comparação) olhar as grandes assistências nas Salésias e no Restelo, mesmo em jogos contra adversário de mediano cartel – por exemplo, cerca de 35.000 pessoas em jogo com o Vitória de Guimarães, com algumas bancadas compactamente lotadas. Deve, contudo, reconhecer-se, que em termos gerais, a equipa como um todo tinha menos força, e só mantinha o nível devido à qualidade extra de Matateu. O esforço para construir o Restelo fazia-se naturalmente sentir... Entre 1940 e 1955, mesmo com os factores extra verdade desportiva a que nos referimos, o Belenenses foi o 3º clube nacional em termos futebolísticos. À infelicidade do campeonato de 1955, sucedeu-se, logo em 55/56, a vitória do F.C.Porto no campeonato, que viria de novo a obter em 58/59. A partir de então, o Belenenses fixa-se no 4º lugar mas sempre dentro do lote restrito dos 4 grandes. Manteria esse estatuto indiscutível durante muitos anos, apesar de, a partir de 1961, inclusive, só em algumas poucas épocas esparsas (62/63, 72/73, 73/74, 75/76...) ter estado à altura dessa condição, em termos futebolísticos (porque, no campo desportivo global, as coisas foram bem mais positivas). Veremos isso melhor no próximo artigo. O ano de 1960, com a conquista da Taça de Portugal e, pela 2ª vez consecutiva, da Taça de Honra (com uma vitória 5-0 sobre o Benfica), é claramente um ano de viragem. A seguir, viriam os grandes problemas e as duras penas, como resultado do endividamento contraído com a construção do Restelo.
Vejamos agora, igualmente ano por ano, os feitos principais nas modalidades extra futebol:
1950 - Campeão Nacional de Atletismo, em Equipas Femininas. Campeão de Lisboa de Atletismo, em Equipas Femininas, Campeão de Lisboa, em Râguebi. Campeão de Lisboa de Juniores, em Basquetebol. Vice Campeão de Lisboa, em Andebol.
1951 - Equipa Feminina de Atletismo, Campeã de Portugal e de Lisboa. Campeão Nacional de Juniores de Atletismo, em Equipas Masculinas. Campeão de Lisboa de Corta Mato. Campeão de Portugal de Corta Mato em Equipas Seniores e Juniores (Masculinos) e Femininas. Joaquim Branco detém 8 Records Nacionais em Atletismo. Vice Campeão de Lisboa em Râguebi. Campeão de Lisboa de Juniores, em Basquetebol (2ª vez consecutiva).
1952 - Campeão de Lisboa de Râguebi. Campeão de Lisboa de Juniores, em Basquetebol (3º título consecutivo). Campeão Infantil de Lisboa, em Basquetebol. Campeão de Portugal de Atletismo, em Equipas Femininas (6º título e 5º consecutivo). Campeão de Lisboa de Atletismo, em Equipas Femininas. Homenagem à atleta Georgete Duarte. Rui Ramos faz 15,54 no triplo salto, 2ª melhor marca europeia e 3ª mundial da época, 3ª europeia de sempre e record nacional pelo longo período de 14 anos. Rui Ramos participa nos Jogos Olímpicos, disputando o Triplo Salto. Peggy Brixhe, Campeã Nacional de Ténis.
1953 - Campeão de Lisboa por Equipas, em Atletismo Feminino. 6 Records Nacionais Masculinos e 1 Feminino batidos por atletas do Belenenses durante o ano. Vice Campeão Nacional de Juniores, em Andebol (de 7). Vice Campeão de Lisboa de Andebol (de 7) em Seniores e Juniores. Vice Campeão de Lisboa em Voleibol Feminino.
1954 - Campeão de Lisboa de Atletismo em Equipas Femininas. Campeão de Lisboa em Basquetebol Masculino. Campeão de Lisboa de Infantis, em Basquetebol. Vice Campeão de Lisboa em Voleibol Feminino. Belenenses é sócio fundador da Federação Portuguesa de Badmington. Fernando Stock e Manuel Palma são campeões nacionais e ibéricos de Motorismo. Rui Ramos chega à final de Triplo Salto dos Campeonatos Europeus e é considerado o melhor atleta português pelo jornal “World Sports”.
1955 - Campeão de Portugal e de Lisboa em Equipas Femininas de Atletismo. Georgete Duarte, Campeã Nacional de Salto em Comprimento pela 8ª vez consecutiva. Campeão Nacional, em Basquetebol Feminino. Campeão de Lisboa em Basquetebol Feminino. Vice Campeão de Lisboa, em Basquetebol Masculino. Campeão de Lisboa em Râguebi.
1956 - Campeão de Portugal em Râguebi. Campeão de Lisboa em Râguebi. Campeão de Lisboa em Basquetebol Feminino (2º título consecutivo). Campeão Nacional de Atletismo em Equipas Femininas (8º título e 6º consecutivo). Campeão de Lisboa de Atletismo em Equipas Femininas (12º título e 8º consecutivo). Francelina Moita obtém 8ª título nacional de Atletismo, em 3 provas diferentes. Rui Ramos, Campeão Nacional de Triplo Salto pela 3ª vez consecutiva. Campeão de Lisboa de Badminton.
1957 - Campeão de Portugal e de Lisboa de Atletismo, em Equipas Femininas. Campeão de Lisboa em Basquetebol Feminino. Campeão de Lisboa, em Râguebi. Vencedor da Taça de Portugal em Ténis de Mesa. Início da actividade do Hóquei em Patins.
1958 - Início da Actividade do Ténis. 1º jogo de Hóquei em Patins. Início da actividade do Ténis. Campeão de Lisboa de Râguebi (3ª vez consecutiva). Primeiros jogos de Râguebi fora de Portugal. Campeão de Lisboa de Atletismo em Equipas Femininas (13º título). Campeão Nacional de Atletismo em Equipas Femininas. Vice Campeão de Lisboa em Basquetebol. Campeão Infantil de Lisboa, em Basquetebol. Vice Campeão Nacional de Infantis, em Basquetebol. Vice Campeão de Lisboa, em Andebol (de 7). Cidália Nogueira ganha 6 títulos juniores, em Natação. Despedida de Georgete Duarte: 46 títulos nacionais, recordista e campeã em 10 diferentes provas de Atletismo. Silvério Pereira, presente no Campeonato Mundial de Xadrez.
1959 - Vencedor da Taça de Portugal em Basquetebol Masculino (vitória sobre o Benfica por 44-42 na Final). Vice Campeão Nacional de Basquetebol. Vice Campeão de Lisboa, em Basquetebol. Vice Campeão Nacional de Basquetebol, em Equipas Femininas. Campeão Nacional de Râguebi. Vencedor da Taça de Portugal de Râguebi (vitória por 8-3 sobre o Benfica na Final). Campeão Nacional de Ténis de Mesa. Campeão de Lisboa de Ténis de Mesa. Vice Campeão de Lisboa de Atletismo, em Equipas Femininas.
1960 - Vencedor da Taça de Portugal, em Râguebi. Campeão de Lisboa, em Râguebi. Vice Campeão de Lisboa, em Basquetebol. Vencedor da Taça de Portugal de Basquetebol, em Juniores Masculinos. Campeão Nacional de Basquetebol, em Seniores Femininos. Vice Campeão Nacional de Andebol (de 7). Vice Campeão de Lisboa de Andebol (de 11). Campeão de Lisboa de Aspirantes, em Voleibol. Cidália Nogueira vence Travessia do Tejo e Travessia da Póvoa, em Natação. José de Freitas vence Travessia do Sado, em Natação. Carlos Alberto Vieira vence Travessia da Póvoa em Natação. José de Freitas bate record de Terreiro do Paço – Cascais, em Natação. Adelaide Patrício Campeã Nacional de Dardo, Peso e 80 metros barreiras, em Atletismo. Belenenses organizou primeira corrida de S.Silvestre a realizar-se em Portugal.
Constata-se, por estes dados, um Belenenses interveniente na decisão de quase todos os grandes títulos, tanto na década de 40, como na de 50. Vale a pena aqui repetir que, durante muito tempo, os Campeonatos de Lisboa eram rijamente disputados, e a sua conquista cobiçada pelos grandes clubes. E o Belenenses “estava lá”, como um entre iguais. Justifica um destaque os 8 campeonatos nacionais e os 14 campeonatos de Lisboa conquistados pela Equipa Feminina de Atletismo, às vezes ganhando todas as provas (!!!), graças especialmente à campioníssima Georgete Duarte, cuja desenvoltura e dignidade ainda hoje impressionam. Ainda no Atletismo, o Belenenses teve dois enormes campeões em Rui Ramos e Joaquim Branco. Em Natação, surge o nome de José Freitas, de que falaremos no próximo artigo.
Terminamos a referência a estas décadas de glória e grandeza, com referência ao abandono das Salésias (curiosamente anunciado em 1946, quando o Belenenses é campeão. Coincidência?) e à construção do Restelo numa pedreira num local desolado de Lisboa. O Belenenses não foi tratado em igualdade de circunstâncias com os outros grandes clubes lisboetas e disso sofreu duras consequências. O Belenenses acabaria, decerto, por se abalançar a construir um estádio à altura dos estádios dos outros grandes clubes, como fez com o Restelo, na altura provavelmente o melhor de todos (seguramente o mais bonito) mas merecia ter sido compensado por tudo quanto investira nas Salésias e a que não se podem comparar os muito menores investimentos de F.C.Porto, Benfica e Sporting. O Restelo é um belo parque desportivo mas o Belenenses pagou por ele um preço desmedido, como veremos no próximo artigo. Não obstante, a sua inauguração foi um grande e festivo acontecimento, com um magnífico e grandioso programa – que já explicitámos em outro artigo -, preparado com larga antecedência (5 meses antes, já o jornal do clube publicava cupões para a compra de bilhetes!), e onde a alma belenense expressou todo o seu amor pelo clube. Durante uma semana, os jornais desportivos encheram-se de capas com o Belenenses e o seu estádio!
Comentário do autor:
"Tenho deixado de fazer comentários, por não conseguir suportar a ligeireza com que se tratam os temas, o contentamento despropositado, o acatamento plácido, quando não militante, da vergonha dos empréstimos, as piadas sardónicas e mázinhas e, até, certos silêncios maldosos. Não obstante, pretendo acabar este trabalho. Julgo, sem falsas modéstias, que reuno elementos dispersos e quase desconhecidos, que são preciosos para os (porventura poucos...) que amam profundamente o Belenenses, se comovem com os feitos que construíram a grandeza do nosso clube, e querem entender como chegámos até aqui. Prosseguirei, pois, não obstante os silêncios gritantes de alguns..."
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