sábado, julho 01, 2006

Honrando a «Velha Aliança»...

R.Vasco

Portugal bateu esta noite a Inglaterra, num jogo que não sendo – na minha modesta opinião – espectacular fez história: a selecção de 2006 igualou a presença dos Magriços de 66 numa meia-final de um Mundial. Confesso que, pessoalmente, me deu um gozo especial que a equipa de todos nós tivesse batido a Inglaterra, nação pela qual, não obstante a histórica aliança (que os ingleses são os primeiros a ridicularizar), não tenho a mínima simpatia.

Talvez por isso tenha substituído, quando cantava o hino na sala de minha casa, o verso «contra os canhões marchar… marchar!» pelo verso original e mais antigo, entretanto retirado de «A Portuguesa»: «contra os bretões marchar… marchar!». Bem sei que foi apenas e tão só um jogo de futebol… Não se tratou de uma guerra, nem de um ajuste de contas. Mas tenho ouvido da boca dos adeptos ingleses coisas verdadeiramente inacreditáveis. Um deles cantava há uns dias, durante uma reportagem da RTP, «you are just a little town in Spain» («Vocês são apenas uma pequena cidade em Espanha»). Pois bem, os habitantes da tal pequena cidade despacharam-nos para casa, onde certamente poderão assistir «à bola» durante o célebre «chá das cinco», hábito que é tão inglês como a torre Eiffel é russa, não tivesse sido iniciado em terras britânicas por uma rainha portuguesa. Adiante…


Tenho por hábito, durante o Mundial, ler a imprensa estrangeira, procurando não os aspectos menos interessantes, como são as meras descrições dos jogos, mas muito mais aquilo que pode ajudar a definir a cultura/maneira de estar de cada um dos países, ou seja, a forma como abordam:

1 – O fenómeno desportivo e o futebol em particular;
2 – O tratamento concedido aos adversários, e em particular a Portugal.

Escusado será dizer que, durante esta semana, ler a imprensa inglesa foi um exercício interessantíssimo. Muitas vezes apresentada como a melhor do mundo, a imprensa das «terras de Sua Majestade» parece perder a cabeça quando o assunto é:

1 – Qualquer tipo de disputa entre a Inglaterra e um outro qualquer país;
2 – Mais ainda quando o futebol é o assunto do dia.

Todos sabemos que jornais como o tristemente célebre «The Sun» vivem da polémica, e são por isso enormes máquinas não de informar, mas antes de vender. É todavia interessante notar que os jornais ditos de referência (como o «Times») parecem também não resistir a uma estranha forma de patriotismo, arranjando sempre uma forma de apontar o dedo a terceiros para justificar o insucesso.

A forma como o «Times» noticiou a expulsão de Rooney e sobretudo os comentários dirigidos a Cristiano Ronaldo são, no mínimo, a consequência de um enorme mau perder. Sugere o jornalista encarregue daquela peça que a possível transferência do n.º7 do Manchester United para o Real de Madrid até pode nem ser uma má ideia. Ao ponto a que chega o facciosismo e a falta de objectividade na hora de tirar conclusões…

O «The Independent» coloca uma bandeira portuguesa na 1ª página, e pergunta: «Gostamos dos Portugueses?». A resposta encontra-se, sob a forma de artigo, no interior da edição de hoje. Trata-se de um texto em que o jornalista apresenta um conjunto de argumentos para uma resposta positiva à pergunta, mas no qual acaba por confessar uma profunda ignorância acerca de Portugal e dos portugueses, terminando por admitir que os ingleses adoram os portugueses porque estão não são «nem espanhóis, nem franceses, nem alemãs, nem…». Ou seja, para eles somos aqueles que não são nada. Seremos, nas suas cabeças, insignificantes (a tal «small town in Spain»).

Os exemplos encontram-se em praticamente todos os meios de comunicação sedeados em Londres, e se por um lado o desprezo por Portugal os pode aliviar do peso da derrota (justa) que sofreram, por outro encontra-se disponível para que todo o resto do mundo o leia, tirando as necessárias conclusões.

Cá para mim, estou borrifando se um tal de John Lichfield sabe ou não alguma coisa de verdadeiramente importante acerca de Portugal. Aliás, o próprio Pauleta já lhes disse a eles – ingleses – que as suas afirmações demonstram a sua própria ignorância. Por hoje contento-me com as três «batatas» que nos colocaram na «meia-final» com a França, os arqui-inimigos dos nossos «mais antigos aliados». Prometemos desde já aos «bifes» que, honrando a tal aliança, tudo faremos para bater os gauleses.

Nota: bem sei que este é um blog dedicado ao Belenenses, embora a ele não se cinja, desde há muito. Senti-me compelido a escrever este texto, e aqui está, para quem o queira ler e tirar as suas conclusões.)

Sem comentários: