sexta-feira, maio 11, 2007

Jesus no DN

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Entrevista de Alexandra Tavares-Teles publicada no DN:

Pela sua parte, a final da Taça de Portugal vai ser um bom jogo?Vai. Vamos jogar um dérbi, que é um sonho meu.

Tem uma ligação afectiva muito forte com a Taça. Perdeu um familiar no Estádio Nacional durante uma final era ainda muito jovem...
Não quero mais falar sobre isso porque me comove muito mas, realmente, conheço bem o ambiente da Taça, a maneira como nos juntamos à volta das sardinhas assadas porque desde os 13 anos que vou ao Jamor.

A Taça tem perdido dignidade?
Não. A paixão é sempre a mesma, é sempre uma festa.

Que Sporting espera?
Não há segredos para este jogo. Sei exactamente como é que o Paulo Bento vai jogar e tenho a certeza de que ele também sabe como é que o Belenenses vai jogar. Nenhum de nós vai inventar seja o que for para a final.

Quem é o favorito?
Durante o jogo vão aparecer situações inesperadas que só podem ser definidas e avaliadas na altura e aí quem tiver os melhores jogadores pode modificar melhor as coisas.

Qual a última frase que dirá aos seus jogadores antes de eles subirem ao relvado?
Estejam tranquilos porque estar na final já é uma grande vitória nossa.

Disse recentemente que no futebol, o fair-play é uma treta. Não vai haver fair-play na final?
Se por fair-play entendermos o lançar a bola para fora quando um adversário se magoa, então espero. Mas se quiser dizer que não vale simular faltas ou não vale enganar o árbitro, então não espero fair-play. E é por isso que disse que é uma treta.

O que lhe falta para treinar um dos três grandes?
Gosto de provar todos os dias que sou cada vez melhor mas apenas a mim próprio. Não me falta provar nada a ninguém e não trabalho com o objectivo de treinar os três grandes. O meu objectivo é aprender todos os dias. E, sem dúvida, hoje sou melhor treinador do que há uns anos.
Acha então que tem sido bem aproveitado pelo futebol...
O futebol tem sido justo comigo e, por isso, exijo a todos os que trabalham comigo respeito pelo futebol. É claro que nunca ninguém me deu nada. Comecei na III divisão e só cheguei à II porque coloquei lá uma equipa. E só cheguei ao escalão principal porque fiz subir uma equipa à I divisão. Mas não me queixo.

Todos os treinadores gostariam de treinar um grande...
A minha ambição não é essa. Considero-me um grande treinador independentemente de chegar ou não a um dos três grandes. A grande diferença nos clubes grandes é o cifrão. Melhor ordenado, melhores jogadores, melhores condições de trabalho. Por exemplo, neste momento só o treinador de um dos três grandes pode ser campeão. Mas isso não impede que eu seja um grande treinador.

Na lista dos dez melhores portugueses em que lugar se coloca?
Em primeiro.

Depois desta época não estaria na altura para dar esse passo?
Todos os anos consigo fazer coisas interessantes. E embora seja quase impossível fazer melhor do que este ano, acredito que farei melhor.

Treinadores e jogadores que se destacam em pequenos clubes falham nos grandes. Porquê?
Os objectivos são diferentes, a equipa é obrigada a jogar sempre para a vitória. Nos grandes, a criatividade é dividida por mais atletas enquanto numa equipa pequena o criativo tem mais a bola e sabe que só ele pode resolver um problema.

Quem o contrata leva que tipo de treinador?
Um muito criativo e com uma enorme intuição para o jogo. Vejo coisas que outros não conseguem ver ou seja, consigo explicar o que não se vê.

Como assim?
No futebol, o conhecimento não se compra na farmácia, não vem nos livros nem está na Internet. É preciso criatividade e intuição. Um treinador é como um pintor.

Um pintor?
Sim. Quando a Paula Rego está a descrever um quadro que pintou, só ela é que está ver aquilo. Eu sou como a Paula Rego. Foi essa mais-valia que levei para o Belenenses e para outras equipas por onde passei.

O que mudaria em si?
Poderia ser um pouco mais tolerante. A paixão que tenho pelo futebol pode ser um defeito.

O Belenenses começou a época na Liga de Honra. Se se tivesse preparado desde o início para a Liga poderia ter chegado onde?
Não. O Belenenses não tem capacidade para fazer mais do que fez. Se ficarmos em quarto lugar e ganharmos a Taça chegamos ao limite. Se isso acontecer, o Belenenses ganhou tudo o que havia para ganhar. Mais, é impossível. Só mesmo os três grandes poderão fazer melhor.

É bem pago no Belenenses?
Acho que recebo o que mereço.

Conseguiu num ano o que o presidente tinha planeado conseguir em três. Vai rever o seu contrato?
Não.

Teve convites de outros clubes?
Não.

Vai ficar no Belenenses?
É o mais certo até porque tenho mais um ano de contrato.

O Belenenses é o quarto grande?
Pela história, é. Mas a avaliação só pode ser feita época a época. Não se vive do passado.

O que lhe falta para ganhar um título?
Capacidade financeira. É impossível aproximarmo-nos dos orçamentos dos três grandes. Tenho até dúvidas de que consigamos fazer na próxima época alguma coisa tão boa como o que conseguimos fazer nesta.

Então?
Vamos tentar defender o prestígio do Belenenses. Em termos de crescimento os três grandes gastam entre oito a dez vezes mais.

Que jogadores do Belenenses têm lugar nos grandes?
Vários. E, pelo menos, dois ou três desses activos deverão ser rentabilizados. A nossa época vai ser defendida dessa maneira.

O avançado Dady é um dos que vai ser vendido?
Pode ser um deles. Quando me chegou às mãos era um jogador selvagem. Não conhecia o jogo. Para mim o Dady é a grande revelação da Liga.

O Ruben Amorim vai para o FC Porto?
Não sei. Ele tem qualidade mas há mais Rubens no Belenenses. Comigo não há vedetismo.

Já disse ao presidente quem vai sair e que reforços pretende?
A época está toda dentro da minha cabeça . Mas, só falarei com o presidente depois da final da Taça.

Já trabalhou com muitos jogadores. Quem destacaria?
Há dois que são especiais porque lhes modifiquei completamente a maneira de jogar. Estou a falar do Jorge Andrade e do Paulo Ferreira. Disse ao Jorge que poderia ser um grande central se passasse um ano a jogar como médio defensivo. Apesar das queixas, coloquei-o nesse lugar e hoje joga ao mais alto nível. Encontrei o Paulo no Setúbal onde jogava em várias posições menos na certa. E vi que seria um grande lateral direito. E ele acreditou em mim.

É um descobridor de talentos?
Nas equipas onde estou há pelo menos um jogador que vai sempre para um dos grandes. Até o Manoel, com apenas sete jogos feitos pelo Moreirense, consegui vender ao Sporting. Fui buscar o Sérgio Conceição ao Leça, o Jorginho acabou no FC Porto e o Miguel foi para o Benfica.

O melhor jogador da Liga?
Simão e Quaresma. E equipa revelação, o Belenenses.

Jesualdo Ferreira, Paulo Bento ou Fernando Santos?
A equipa onde se nota mais a mão do treinador é a do Sporting. Paulo Bento potencializou mais os seus jogadores do que os outros.

O que falhou no Sporting?
O Sporting passou por um problema de crescimento, problema que lhe dá uma grande vantagem para a próxima época porque dos três grandes foi a equipa que mais promoveu a valorização individual dos jogadores. O Benfica, por exemplo, tem trabalho a fazer nesse campo.

O título pode fugir ao FC Porto?
Não acredito. Individualmente, é a equipa mais forte, é a que tem mais jogadores com qualidade.

A arbitragem influenciou este campeonato?
A arbitragem está melhor em parte por causa do "Apito Dourado". O futebol, em Portugal, vai ser para os melhores, o que antes não acontecia.

Dizem que tem sentido de humor suficiente para aceitar com ironia os seus erros de português...
Quem nunca deu uma calinada? !

Então não se zanga?
Não. Nunca fui um aluno forte a português. Acho engraçado quando brincam com isso. Antes dizer calinadas que ser politicamente correcto. Acho uma hipocrisia.

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