Artigo de opinião publicado no Site Finta & Remata:
Era evidente logo em Julho, para alguém minimamente atento, que a época do Belenenses seria, na melhor das hipóteses, difícil. Um plantel aberrante e a contratação de um treinador sem currículo, sem passado nem futuro, à excepção de um 4º lugar num Nacional da Madeira recheado de craques, só podiam ter este desfecho.
Depois de anos mágicos, com Jorge Jesus ao leme, em que o Belenenses jogava, ganhava e encantava, veio o desastre. A morte do Presidente Cabral Ferreira e a entrada em cena do para-quedista Fernando Sequeira cuja primeira medida de fundo foi dar a entender a Jorge Jesus que o queria longe do Restelo e cuja segunda medida foi pedir (devidamente avalizado por uma AG de sócios adormecidos com o canto da sereira) um empréstimo de 5 milhões de euros empurraram o Belenenses para uma situação que roçou o patética.
E roçou o patético quando o Belenenses contratou jogadores de fundo de catálogo no Brasil convencido que estava a contratar jogadores históricos, pagando-os a esse preço. Ou quando o Belenenses mandou vir do Brasil, com contratos leoninos, 3 jogadores que semanas antes andavam a ser oferecidos à experiência na 2ª Divisão portuguesa… alguns dos quais nem profissionais de futebol eram.
A pré-época, com 19 brasileiros no plantel, deu para começar a assustar, as pessoas foram percebendo que os históricos e os craques não passavam de malta simpática que tinha cruzado o Atlântico e que ia ser duro, muito duro. Ainda se tentou ir buscar um central com experiência de Europa (Alex von Schwedler) e um avançado de alguma qualidade, Richard Porta, que me pareceu sempre sub-aproveitado. Mas o que nasce torto…
Foi uma época penosa, apenas sacudida por algum efeito psicológico da entrada de Jaime Pacheco, mas sem efeitos a mais do que curto prazo. Arrastámo-nos sempre pelos últimos lugares e, sejamos justos, a descida foi mais que merecida. Aliás, fomos a pior equipa do campeonato, tendo unicamente como vantagem em relação ao Trofense as individualidades que iam atenuando qualquer coisa (Silas, José Pedro, Júlio César, Saulo…).
O melhor – Os Adeptos
Podemos considerar o melhor da temporada a resposta dos adeptos, que estiveram sempre com a equipa. Aliás, quanto mais negra era a situação e se caminhava para o final da temporada, mais melhoravam as assistências no Restelo. Os adeptos só podem estar de parabéns, e a última jornada, a descer no Estádio da Luz, a perder 3-1, merece entrar na história. Os últimos 10 minutos, com a descida de divisão inevitável, com os indefectíveis adeptos a cantar “Belém até Morrer” foi uma experiência única para quem a viveu.
O pior – Os jogos
Cada jogo desta temporada foi, para os adeptos do Belenenses, um suplício. Era evidente o sofrimento com que os adeptos ocupavam o seu lugar na bancada, já adivinhando, semana após semana, que nada de bom viria do relvado. Não houve um único jogo ganho com tranquilidade (também, uma mão chega para contar as vitórias…), cada bola parada lateral era meio golo para o adversário. Enfim, uma verdadeira tortura.
A figura – Fernando Sequeira
Dificilmente haverá, por estes dias, figura mais detestada no Restelo do que o ex-Presidente Fernando Sequeira. Foi, portanto, “figura” pela negativa. Manobrou os adeptos para ter ao seu dispor um empréstimo de 5 milhões que desbaratou e prometeu uma equipa para a Europa que dificilmente se aguentaria na Liga Vitalis. Desapareceu sem deixar rasto aos primeiros indícios que a coisa ia ser complicada. Sem comentários.
A figura em campo – Silas
Provavelmente Silas fez a sua última temporada no Belenenses e, infelizmente, sendo muito contestado ao longo de toda a época. Nas bancadas do Restelo foi crescendo a contestação ao virtuoso jogador, mas a verdade é que assumiu sempre a sua condição de capitão e deu sempre a cara e o corpo em campo. Tecnicamente foi uma época fraca, mas demonstrou sempre a sua fibra e defesa do emblema do Belenenses.
A revelação – Rui Jorge
Teve direito a 2 jogos como treinador principal, e percebeu várias coisas rapidamente que outros demoraram demasiado tempo, ou nem chegaram, a perceber. Gavilán tinha de ser titular, Diakité não sendo central era o melhor que tínhamos jogando nessa posição e há muitos juniores capazes de fazer, pelo menos, as mesmas figuras que muitos jogadores pagos a peso de ouro.
A revelação em campo - Juniores
Não que tenham tido um papel importante ou algum destaque por aí além. Mas depois de Jaime Pacheco chamar vários juniores sem nunca os usar, destruindo assim a excelente temporada da equipa de juniores, a verdade é que nas duas últimas jornadas demonstraram que tinham pelo menos tanta capacidade como muitos jogadores utilizados ao longo da temporada, bastante mais caros e que não sentem o símbolo que trazem ao peito.
A desilusão – Jaime Pacheco
Ninguém imaginava tamanha desilusão com um treinador que, pese embora a forma como foi campeão nacional, se acreditava que teria um mínimo de qualidade, quanto mais não fosse para mexer psicologicamente com a equipa. Falta de qualidade de treino, treinos longe do Restelo para “fugir dos adeptos”, equipas mal montadas e incrível apatia no banco não foram atenuadas por um suposto “amor à causa” que até envolveu cachecol ao pescoço. Para esquecer.
A desilusão em campo – Vinícius Pacheco
Sendo provavelmente a melhor contratação do “contentor” do Verão (veio por empréstimo do Flamengo) prometeu sempre muito, mas falhou sempre na hora h. Talvez com outro treinador explodisse, assim acaba até por ficar na memória dos adeptos como o “tipo” que tinha jeito, mas era pé frio. As perdidas inacreditáveis frente a Paços de Ferreira e Leixões tão cedo não serão esquecidas pelos adeptos azuis.
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