Dois resultados positivos, vitórias frente a primodivisionários, começam a dar algum alento aos adeptos azuis, mesmo que o Nacional disputásse o segundo jogo em dois dias e o Vitória seja possivelmente o adversário mais acessível na Liga Sagres. Mas o que interessa é ganhar, e ganhámos. Inverteu-se pois um ciclo complicado e podemos, vencendo na apresentação, entrar na Liga vindos de um ciclo de vitórias.
O entrosamente também tem vindo a melhorar, temos desenhado algum bom futebol, pese embora se mantenha o pesadelo do ano anterior (ainda que mais atenuado): a defesa. Claramente, este é o sector que mais urge reforçar, e parece estar a ser feito um esforço nesse sentido.
A saída de Júlio César poderia ser muito grave, mas a imediata contratação de Nélson deixa-nos, na minha opinião, mais fortes. Júlio César tem capacidades físicas fantásticas e uma "escola" que raramente jogadores brasileiros que aparecem em Portugal têm. Porém, a sua juventude e talvez características, não fazem dele para já um líder de uma defesa, e o ano passado, como este, precisamos de alguém que "arrume a casa" lá atrás. Nélson, aos 33 anos, está no pico de carreira de um guarda-redes, tem uma imensa experiência e pode ser essa importante voz de comando. Acresce ser mais uma presença portuguesa no plantel, o que não é de desdenhar tendo nós sido a 11ª equipa da Europa com mais estrangeiros no ano que passou. Este ano vai-se invertendo o ciclo, e ainda bem. Mas isso demonstra bem a linha estratégica que, invariavelmente, nos orienta: nenhuma.
Para reforço do centro da defesa, fala-se em vários nomes, de Pelé a Marc Zoro, de Beto a Jorge Andrade. Pelé é um daqueles excelentes centrais que tem de jogar com um "patrão" ao lado (apesar de eu achar que ele passou ao lado de uma carreira brilhante como trinco, uma espécie de Patrick Vieira) sob pena de, tendo de ser ele o líder, parecer completamente "fora de jogo". A sua vinda manteria o problema, pois não temos para já nenhum "patrão" na defesa. Marc Zoro, convenhamos, é algo absolutamente irreal que a acontecer seria uma probabilidade num milhão, pois falamos de um jogador que aufere 100 mil euros mensais, valor esse que teria de ser suportado, no mínimo, em 90% pelo Benfica, sendo que as possibilidades de valorização do activo no mercado português e num clube que se apresenta para efectuar uma época de sofrimento são nulas. Beto nunca foi o "central a caminho do Real Madrid" que pintaram anos a fio, mas é um jogador de inegável qualidade, muito experiente e que poderá querer regressar a Lisboa. Por outro lado, poderá também estar tentado, e bem, a ir ganhar uns valentes cobres durante um ano ou dois até um "paraíso infernal". Jorge Andrade, devo dizê-lo, é dos centrais que mais gozo me deu ver jogar, uma classe inacreditável, timings sempre correctos, jogo aéreo irrepreensível. Porém, vem de uma paragem de 2 anos, a sua situação física não é clara e, estando em perfeitas condições, dificilmente o Belenenses terá argumentos financeiros para o chamar. No entanto, e atenção, Jorge Andrade mais do que querer ganhar dinheiro, deve querer mostrar que pode voltar a ser O Jorge Andrade. Pode querer voltar a Lisboa e ao Restelo, onde assistiu a tantos jogos nos últimos 2 anos. E o que pode ganhar financeiramente nesta altura da carreira é residual tendo em conta os milhões ganhos ao longo da carreira (por exemplo, a rescisão com a Juventus, diz-se, custou aos italianos 4 milhões de euros...). Ou seja, resumindo e baralhando, estas 4 opções deixam-nos a situação pouco clarificada... Veremos o que a Administração decide. Mas é preciso rapidez e pontaria na decisão.
Vem depois o problema dos laterais: à direita o adaptado Cândido Costa, que faz o que pode e não pode e a mais não é obrigado ; à esquerda, dois jovens com valor mas que vêm revelando alguma inexperiência. Haverá reforços? Serão necessários? Será Mano deslocado para a direita e Cândido regressará ao meio campo, onde de facto faz a diferença? Penso que aqui esteve o grande erro no mercado, Miguel Garcia seria um reforço de peso, mas compreendo as dúvidas sobre a sua condição física.
No resto, Yontcha (o Yon Tcha, como já foi chamado!) parece ir-se revelando como homem golo (poucas oportunidades com concretização eficaz, aproveitamento de erros defensivos, é isso que faz um ponta de lança) e Freddy tem sido a revelação. Igor é uma incógnita e Celestino vai-se afirmando, sendo que o considero uma das nossas melhores contratações nos últimos anos. Barge e Ivan têm tido alguma dificuldade em ganhar o seu espaço e o imbróglio de Pelé com a Triestina pode fazer-nos perder um jogador com capacidade para se afirmar rapidamente. E depois, claro, há José Pedro. Classe, experiência e resolução de problemas.
Em conclusão, está a formar-se um plantel claramente melhor que o do ano anterior, com jogadores portugueses (o que implica mais facilidade de absorção da mística do clube) e um orçamento inferior. A época será longa e dura. A equipa precisa de nós e nós também precisamos que a equipa nos dê algumas alegrias depois da tristeza do ano anterior. Mas as coisas começam a ganhar forma.
Sem comentários:
Enviar um comentário